O gato que amava livros: um livro que conforta e traz críticas literárias

Escrito por - agosto 25, 2024

 


Há um tempo eu li "O gato que amava livros", sentei no meu computador para escrever sobre, porém sem sucesso. Tentei, juro que tentei, expressar com palavras tudo o que ele me fez sentir e pensar, porém, no fim, acabei deixando todos os pensamentos adormecerem conforme eu ia refletindo cada vez mais sobre o livro que eu havia lido. Quando ouvi falar desse livro, eu imaginei que ele seria apenas um "livro de conforto" (Healing Fiction), como ele é vendido por aí, porém o que recebi foi algo muito mais intrínseco do que apenas uma leitura de cura e conforto.

Em O gato que amava livros, escrito pelo Sosuke Natsukawa em 2017, e lançado em 2022 pela Editora Planeta, não traz apenas uma mensagem sobre o poder do conforto dos livros, pelo contrário, é um livro escrito por quem ama os livros de verdade e traz tantas críticas ao mercado literário que se impossibilita absorver toda a grandiosidade que um livro de título e capa fofa carrega.

O gato que amava livros é aquele típico livro que você não consegue ler sem ficar pensando nele por dias. Principalmente se você for uma pessoa atenta ao universo literário atual. Nele, nós conheceremos o Rintaro Natsuki, um estudante comum do ensino médio que morava com o seu avô. O avô tinha uma pequena livraria, um pequeno sebo na periferia da cidade e, ao falecer, o empreendimento ficou sob a responsabilidade do seu neto, Rintaro. 

Os livros têm um poder extraordinário. [...] Existem histórias atemporais, poderosas o suficiente para sobreviverem ao longo dos anos. Leia muitos desses livros; serão amigos para você. Eles vão te inspirar e dar apoio.

Prestes a fechar a pequena livraria, Rintaro é surpreendido pela visita inesperada de um gato falante, Tigre. O gato, amante dos livros, convida Rintaro para ajudá-lo em uma missão para resgatar livros. A princípio é estranho imaginar que estamos ingressando em um livro de fantasia tipicamente japonesa, e não em um livro que se passa em uma livraria como Bem-vindos à livraria Hyunan-Dong.

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A crítica por trás de cada labirinto

Embarcando nessa aventura de resgatar livros, somos levados por 4 labirintos distintos, que fazem por si só a divisão do livro. Um livro com apenas 4 capítulos? Exatamente.

A cada labirinto, nós, amantes de livros, nos deparamos pelas mais diversas situações tão reais quanto na época em que o autor lançou o livro. Entre as temáticas dos três principais labirintos está:
  • A crítica aos leitores compulsivos;
  • A crítica às técnicas de leituras dinâmicas;
  • A crítica às editoras e ao mercado editorial.
Divididos entre "O aprisionador de livros", "o mutilador de livros" e "o vendedor de livros", respectivamente, cada um deles traz uma crítica muito palpável e todo leitor experiente tem percebido tal mudança ao longo das décadas.

Vou trazer abaixo um resumo do livro "o gato que amava livros", sem spoilers!



O primeiro labirinto - O aprisionador de livros

Aqui, Rintaro e Tigre irão enfrentar um leitor compulsivo que "aprisiona livros", uma clara crítica aos leitores que colecionam livros apenas por status ou que leem apenas para compartilhar com o mundo os seus números.

O primeiro labirinto é surpreendentemente bom. Ele traz com força total a crítica ao ato de ler apenas para somar quantos livros foram lidos e depois exibi-los por aí. Nos faz refletir se em algum momento estamos lendo e absorvendo o conhecimento que aquele livro traz, seja ele qual for, ou apenas estamos colecionando livros e expondo-os como em um museu.

"O leitor que se esquece de andar com as próprias pernas é como uma velha enciclopédia, com a cabeça cheia de informações obsoletas. A menos que alguém abra, não passa de uma antiguidade inútil."


O segundo labirinto - O mutilador de livros

No segundo labirinto, nos deparamos com a crítica aos leitores que recorrem à leitura dinâmica e são adeptos de dizer que leram um livro apenas pela leitura de um resumo ou até mesmo de uma sinopse. Nesse capítulo, somos convidados a refletir sobre a pressa de ler um livro ou até mesmo um artigo porque "não temos tempo a perder". Nos faz pensar nas vezes em que lemos algo tão rapidamente que nos tornamos incapazes de absorver o que foi lido.

Ler não é só um prazer ou entretenimento. Às vezes, você precisa examinar as mesmas linhas a fundo, ler as mesmas frases várias e várias vezes. Às vezes, você fica lá sentado com a cabeça nas mãos e só progride em um ritmo árduo e lento. E o resultado de todo esse trabalho duro e desse estudo cuidadoso é que, de repente, seu campo de visão se expande. É como encontrar uma bela vista ao final de uma longa escalada.

O terceiro labirinto - O vendedor de livros

No terceiro labirinto, nos deparamos com uma crítica muito forte às editoras e o mercado editorial na totalidade. "Vender livros que vendem, essa é a regra", é uma das frases que traduzem bem a crítica feita nesse capítulo. 

Carregado de alfinetadas muito bem expressas, nesse labirinto conseguimos visualizar perfeitamente o rumo que o mercado literário vem se tornando ao longo dos anos e do fato de que nós, autores, também precisamos nos adaptar a eles ou ficaremos para trás.

O mercado que não se importa com questões com mensagens a serem transmitidas, ou filosofias que precisam ser passadas. Um mercado que conduz o público a consumir resumos baratos, versões reduzidas e livros com passagens pornográficas ou demonstrações gratuitas de violência.

você sabe o que a maioria dos leitores procura em um livro? Algo fácil, barato e emocionante. Não temos escolha a não ser nos adaptarmos para atender aos gostos desses leitores.


Ainda há um quarto labirinto, porém esse deixo para que você descubra seu desfecho quando o ler. Ele foi um que me fez arrepiar, chorar e sentir cada palavra ali escrita.

Se eu pudesse indicar um único livro para todos os amantes de livros, que está sentindo o mercado cada vez mais saturado, com certeza seria "O gato que amava livros". Um livro que nos faz refletir sobre quem somos como leitores e no que estamos nos tornando; nos faz olhar para nós e observarmos se estamos conduzindo nosso poder crítico em prol de nós e do mundo ao nosso redor.

Um livro que você não conseguirá ler tão rápido porque com certeza estará pensando em tudo o que ele aborda. Fantástico, sensível e sem dúvidas: um livro com alma.

 


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